16/10/2009

As velhinhas do ônibus

Eu não posso evitar. Acabo ouvindo a conversa dos outros no ônibus. As que mais ouço são das senhoras entre seus 50 e 70 anos, voltando do supermercado com os ingredientes da mais nova receita da Ana Maria Braga.
As conversas das Anas e Marias são, geralmente, não que alguém se importe, sobre doenças. Mais do que novelas. Mais do que maridos. Não que estes não representem, de alguma forma, doenças.
Há uma espécie de disputa para decidir quem está mais doente. Dia desses ouvi:

- Me-ni-na, não paro de tossir!
e aí a outra respondeu:
- Meu marido também tá mal. E olha que eu, sem útero, sem um dos rins, e com a coluna estourada, ainda estou melhor do que ele.

Competição. Talvez seja só uma forma de se sentir vivo. Dizer que dói, para se sentir mais vivo. Talvez o problema apareça realmente quando parar de doer, quando parar de sentir. Quando não tiver mais nada para reclamar.
Talvez isso seja não só em relação às doenças, mas aos maridos e novelas também.

2 comentários:

andre disse...

Penso que é uma das estratégias de sociabilidade da terceira idade. Uma das marcas dessa idade são as dores. Partilhando as debilidades você acaba acentuando os laços sociais.

Uma outra explicação é a falta de pauta dessa idade. Carência de memória é um dos fatores que agravam isso.

Reclamar é um dos verbos que mais servem de catalizadores sociais. Isso vai da politica aos vizinhos.

Bom texto, continue os ataques de privacidade aos idosos do transporte público. ;)

Andressa m disse...

Ahhh eu entendo muito bem disso.

Você sabe.

Sou o Senhor Burns com 21 anos.